#1 – Um retorno, um recomeço, um papo sobre possibilidades
Essa newsletter está voltando à vida. Passei horas tentando pensar no que escrever. Comecei e abandonei diversos textos. Falei sobre depressão, fim de ano, pandemia, recomeços, escrita, relacionamentos, furacões internos dos mais diversos tipos. Joguei tudo fora. Na maior parte do tempo, tenho me sentido como se eu não tivesse nada importante a dizer. Tudo já foi dito. Tudo já foi dito, repetido, dito outra vez, repetido de outra forma ad eternum, over and over again.
Essa também é uma sensação potencializada pela internet. Quando voltei a usar as redes sociais depois de quase 1 mês com os perfis desativados, esse foi o meu primeiro pensamento. Como tudo parece mais aberto fora das redes! O mundo é imenso, as possibilidades são inúmeras. Existe muito a se dizer, fazer, criar, pensar. Mas, quando eu volto pra cá, volta a sensação de mesmice e repetição. As trends do TikTok se repetem, o estilo de conteúdo no feed do Instagram é sempre o mesmo, as threads do Twitter, os assuntos cíclicos, as polêmicas ruminadas, como se estivéssemos todos presos em um eterno dia da marmota virtual.
É de certa forma curioso porque nós nunca vivemos uma época com tantas ferramentas criativas à nossa disposição. Aqui na internet tem de tudo. Vídeos curtos, longos, fotos, artes, textões, textinhos. Existe espaço de sobra pra que a gente encontre novas formas de usar essas ferramentas, e são inúmeras as possibilidades pra isso. Mas talvez esse excesso de possibilidades seja justamente o problema. É ele que me faz passar horas buscando algo para assistir na Netflix (e depois na HBO Max, Globo Play, Prime Vídeo e sabe deus mais quantos streamings), até perceber que 2 horas já se foram e nem dá mais tempo de ver nada. É ele que faz a gente dar vários matches no Tinder e não aprofundar nenhum. O excesso de possibilidades é a marca dessa época, uma época em que uma mesma pessoa pode ter perfis em 6 diferentes redes sociais, ou até mais (inclusive, esse vídeo abordou maravilhosamente bem a questão).
Parece ótimo, mas não sei se é. Quando a gente pensa que pode fazer tudo, fica muito fácil se perder e não fazer nada. Limitações soam como inimigas da criatividade em um primeiro momento, mas são necessárias. Sem elas, a gente acaba largado no vazio das possibilidades, preso nesse transe de opções infinitas que dificultam a ação. As limitações ajudam a delimitar o território. Dentro de um cercadinho, você não tem mais todas as possibilidades do mundo, talvez tenha só umas 3 ou 4. É mais administrável, sabe? Não deixa a gente tão louca. Porque, no fim das contas, tentar fazer tudo é sinônimo de não fazer nada. Quem presta atenção em tudo não presta atenção em nada. Olhar para todos os lados é inviável, você acaba tonta e não enxerga nada com clareza.
Então, esse é o meu desejo por agora: restringir. Restringir opções, restringir espaços, restringir projetos. Talvez restringir as redes em que eu mantenho um perfil ativo também. Restringir para não ficar zonza. Restringir para concretizar. Eis os mantras do meu fim de ano.
Li, assisti, encontrei
Superstore (Netflix)
Nunca tinha prestado muita atenção em Superstore, até que vi uns episódios aleatórios e percebi que a série recebe muito menos atenção do que merece! É uma comédia, com episódios curtos e leves, mas que frequentemente esbarra em uns temas importantes, como machismo, assédio, racismo, movimentos sociais, maternidade, entre outras coisas. Eu engoli as 5 temporadas (e sigo esperando a Netflix colocar a sexta e última no catálogo).
School of Chocolate (Netflix)
Mais um dos inúmeros realities de comida, mas dessa vez é só com chocolate! E o formato do programa também é um pouco diferente. Ninguém é eliminado e tudo funciona como se fosse um curso, os alunos vão acumulando notas até o último episódio, quando um deles é escolhido o melhor. Um reality gostosinho pra assistir (comendo um chocolatinho, claro).
@noirdeco
Instagram cheio de referências inusitadas, esquisitas, peculiares e instigantes pra acompanhar, amar, odiar (e se inspirar de alguma forma).
@all_is_abandoned
Perfil imperdível pra quem gosta de fotografias de lugares abandonados.
Drive and listen
Descobri esse site recentemente e fiquei obcecada. Nele você consegue “dirigir” por diferentes cidades do mundo, ouvindo os sons das ruas ou alguma rádio de lá. Passei horas e horas vendo ruas que eu nunca conheci, observando pessoas desconhecidas andando pelas calçadas, fazendo movimentos… E me trouxe uma calma enorme ver isso tudo e lembrar que a minha realidade é só uma fração minúscula do todo. Espero que também te acalme por aí.
[Essa edição da newsletter foi escrita em novembro de 2021 e enviada pelo Mailchimp. Mas, agora que migrei pro Substack, estou armazenando as edições antigas por aqui também.]
Até a próxima!
Maíra