Tempos atrás, em alguma esquina da internet, lembro de ter visto uma pessoa dizendo que as redes sociais são anticriativas por natureza. Principalmente agora, em 2022, momento em que marcar presença nas redes já não é mais uma escolha, mas uma exigência em diferentes mercados de trabalho: não adianta ser competente se você não estiver o tempo todo mostrando isso aos seus seguidores. E é preciso mostrar em alto e bom som, de preferência se sobrepondo a outros profissionais igualmente competentes que também estão tentando mostrar que são competentes em alto e bom som. Ou seja, no fim das contas, tudo vira um grande ruído no qual já não conseguimos discernir nenhuma voz própria. Com um algoritmo doido no nosso encalço e o desespero pra pagar as contas, o que sobra é reproduzir fórmulas já desgastadas, seguir 438 perfis que dão dicas prontas pra viralizar, tentar imitar quem está sendo bem sucedido e torcer pra dar certo.
Ironicamente, até uns anos atrás, eu costumava achar as redes sociais um espaço muito frutífero pra criativos. Textos, fotos, artes, vídeos curtos, longos, havia uma grande gama de possibilidades pra quem gosta de criar. Aliás, ainda há, porque essas ferramentas — e outras novas, que aparecem de tempos em tempos — são mesmo um prato cheio pra experimentações criativas. Mas o que adianta se o algoritmo segue priorizando os mesmos formatos batidos? É isso o que vemos sempre, é isso o que somos influenciados a reproduzir. Com um olhar viciado por vídeos de 30 segundos, transições rápidas, processos acelerados, como esperar que a nossa cabeça sequer enxergue outros caminhos criativos?
Talvez isso explique por que ando tão cansada do Instagram. Embora ainda use a rede pra acompanhar artistas e escritores que gosto, sempre que entro lá me sinto numa espécie de dia da marmota. Já vi esse vídeo outras 15 vezes, em outras 15 contas. Os mesmos áudios popularizados, os mesmos cortes, os filtros. As poucas pessoas que vejo criando coisas diferentes parecem não receber muita atenção. Afinal, como explicam os entendidos de marketing: é preciso embarcar nas trends. Sem trend, sem alcance. Sem trend, sem público.
De fato, não tem criatividade que sobreviva. Nesse cenário, não surpreende que mais newsletters estejam começando a aparecer. Fruto do cansaço diante de formatos já desgastados, como disse a Gaía Passarelli nessa edição de Tá todo mundo tentando, mas também fruto da vontade de descobrir novas possibilidades de comunicação que se afastem do ruído e da ruminação, que não sejam reféns do algoritmo, que nos abram rotas ainda não cooptadas pelo ritmo frenético do capitalismo.
Li, assisti, encontrei
✷ Esses dias assisti O beco do pesadelo, do Guillermo Del Toro (recomendo). Também comecei um pequeno intensivão de filmes clássicos de terror, pra recuperar o tempo perdido, e tô deixando todas as minhas impressões despretensiosas aqui.
✷ Já contei que me apaixonei por Our flag means death? Virou a minha nova série-conforto pra maratonar nos dias difíceis. A primeira temporada tá na HBO Max e contém: piratas gays + humor besta + romancinho fofo (e, de bônus, Taika Waititi bonito demais com um cabelo longo e grisalho).
✷ Escrevi uma resenha sobre Pássaros na boca, da Samanta Schweblin, no blog da Noturna (spoiler alert: maravilhoso o livro). Mas, além desse texto, também tem entrado alguns artigos e resenhas bem interessantes por lá. Esse da Giovanna Venturini, sobre luto e imortalidade em Entrevista com o vampiro, foi um dos meus favoritos.
Falou tudo como sempre. Tô assim também, 250% cansada do instagram e refém de ter que ficar criando conteúdo nele. 😭