#3 – O que deu pra fazer em 2021
Esse foi um ano – sendo benevolente – um tanto esquisito. Passei boa parte dele navegando entre crises de identidade, crises de depressão e crises de ansiedade. Nos momentos entre uma crise e outra, fiz alguns cursos, escrevi alguns contos, adotei uma cachorra chamada Alice, me vacinei, comecei em um novo emprego, vi filmes ótimos e li livros muito bons. Também perdi o meu cachorro logo no começo do ano, o que me garantiu alguns meses de uma ausência tão espessa que parecia ocupar todos os cômodos da casa. Mas, fora esses acontecimentos (alguns bons, outros ruins), não foi um ano de muitos avanços pessoais.
Se eu parar pra ler as metas que fiz no ano passado (o que eu não pretendo fazer, pois ainda tenho algum amor próprio), provavelmente vou ficar decepcionada. Não foi em 2021 que retomei o hábito de fazer atividade física – pelo contrário, estou mais sedentária que nunca. Não foi em 2021 que publiquei um livro novo. Não foi em 2021 que fiz novas amizades, nem foi em 2021 que eu conheci um novo amor, ou que pude viajar, ou que eu consegui o meu emprego dos sonhos (consegui um bom, mas longe de ser dos sonhos). Não foi o ano em que a minha autoestima voltou do mundo dos mortos. Não foi o ano em que eu reformei o apartamento onde eu moro como gostaria, muito menos o ano em que eu consegui o meu próprio apartamento. Nada disso aconteceu. Aliás, pouca coisa aconteceu como eu gostaria.
Mas, ouvindo a Simone cantar na minha cabeça "então é Natal, e o que você fez?", só o que eu conseguia responder mentalmente era: eu sobrevivi, caralho! Não tá bom não, Simone? Porra. Porque, afinal de contas, 2021 foi também um ano em que a gente viveu uma pandemia, fomos governados por um demogorgon, passamos raiva quase que diariamente, enfrentamos um luto coletivo, apanhamos muitas e muitas vezes, de várias formas diferentes. Se só o que a gente fez em 2021 foi sobreviver, a gente já fez foi muito! Sobreviver, aqui, agora, é coisa pra caramba. E tem mesmo alguns momentos da vida nos quais só o que a gente pode fazer é focar em sobreviver. O resto é resto, a gente vê depois, mas, por agora, o foco é continuar aqui, viva.
Esse tem sido o meu mantra nesse fim de ano. Continuar viva. Lembro que, no começo de dezembro, eu estava tão cansada que disse pra minha madrinha: não quero pensar em nada, só quero saber de chegar viva até o recesso. Era esse o meu maior objetivo, a minha linha de chegada que me motivava todos os dias: o recesso. Na minha cabeça, eu poderia passar o recesso lendo, escrevendo, pegando sol, comendo coisas gostosas, e talvez isso me reenergizasse, me desse algumas respostas ou incentivos pra começar 2022 com mais força, menos cansaço. Às vezes, nos momentos mais emperrados, em que continuar parece um movimento inviável, só o que a gente precisa é focar em uma linha de chegada que fique logo ali. Um dia de cada vez mesmo. Ficar viva hoje. Ficar viva essa semana. E ficar viva mais uma semana. E, de semana em semana, a gente vai respirando um pouco melhor. E talvez, lá pra terceira ou quarta semana, a gente consiga enxergar algo que na primeira não estava conseguindo enxergar. E talvez, lá pra sexta ou sétima semana, a gente até consiga fazer planos e olhar com mais otimismo pro que vem pela frente.
É o que eu desejo. Pra vocês e pra mim. Que 2022 venha com novos fôlegos e novos olhares. Mas, principalmente, que a gente consiga ser mais compassiva diante dos nossos próprios processos, das nossas próprias dores e das nossas próprias conquistas (que podem não ser tão grandiosas quanto as de outras pessoas, mas são nossas).
Li, assisti, encontrei
Don’t look up
Chegou na Netflix o filme Don’t look up que conta a história de dois astrônomos que descobrem um cometa em rota de colisão com a Terra, mas encontram muita dificuldade na hora de conscientizar as pessoas, pois o negacionismo não deixa. De quebra, diversos interesses comerciais e políticos se sobrepõem à preocupação com a segurança das pessoas – e, no meio disso tudo, a ciência é completamente descredibilizada. Qualquer semelhança com a pandemia não é mera coincidência (na verdade, é sim, porque o filme foi gravado em 2019, parece). Vale a pena assistir!
A vegetariana, da Han Kang
Queria poder falar desse livro incluindo aqui o link de uma resenha já escrita, mas a verdade é que eu fiquei tão balançada com a leitura que ainda nem escrevi. A vegetariana conta a história de uma mulher que, da noite pro dia, decide virar vegetariana. O que causa estranhamento na família é a motivação: segundo ela, é por conta dos pesadelos que começou a ter. Paralelamente, a personagem começa a ter vários comportamentos esquisitos e a situação acaba desencadeando toda uma crise familiar. Um romance maravilhoso que, através da história de Yeonghye, fala sobre trauma, misoginia e loucura de uma forma sensível e certeira.
5 autoras latino-americanas para ler em 2022
Listinha com 5 dicas de autoras incríveis pra incluir nas leituras de 2022 que saiu lá no blog da Noturna, clique aqui pra ler.
Notícias e avisos
Um dos meus projetos de 2022 já ganhou corpo e se trata de uma: revista literária online! Com foco em literatura fantástica e horror, a ideia é publicar apenas escritoras mulheres. Nossas publicações serão trimestrais, e a primeira seleção vai acontecer agora no começo de janeiro! Pra saber mais sobre a Noturna, clique aqui e acesse o site. E, se você tá no Twitter, segue a gente pra não perder as informações sobre o edital.
[Essa edição da newsletter foi escrita em dezembro de 2021 e enviada pelo Mailchimp. Mas, agora que migrei pro Substack, estou armazenando as edições antigas por aqui também.]