Sou autista e não faço a menor ideia de como começar e manter amizades. Não consigo captar as regras implícitas e aplicá-las na minha vida, da forma como as pessoas típicas parecem fazer. De qualquer forma, como acontece com muitas outras coisas, precisaria de adaptações, mesmo que alguém estivesse disposto a me ensinar as regras de maneira explícita. Por outro lado, sou assexual, sem nenhum interesse em relacionamentos românticos de qualquer tipo, e por vezes é com estranheza que encaro a obsessão de nossa sociedade com relacionamentos românticos, quase como se o ser humano não pudesse viver sem um, quase como se fosse imperativo gostar mais do par romântico que de um amigo. Já ouvi pessoas dizendo que amadureceram muito quando começaram a namorar e sempre sinto certa insegurança com minha vida de solteira, mas será que não podemos amadurecer por meio de nossas amizades?
Sendo autista, talvez o conceito de baixa manutenção afetiva nem faça sentido para mim (precisaria do conceito de amizade atípica, talvez?), mas me parece que dar mais atenção a amigos que a namorados é um ato de rebeldia (e não é muito difícil ser rebelde hoje em dia, não é? Basta dormir 8h por noite, rsrsrs).
Que relato importante. As vezes está todo mundo tão imerso na ideia do relacionamento romântico supervalorizado que o seu olhar como atípica nos faz ver coisas que não conseguimos ver vivendo em grupos em que todos pensam igual. Andar com quem pensa igual nos faz agir sem pensar, é isso não é nada bom.
No caso das suas amizades acho que ajuda não deixar nada implícito. E os amigos já sabendo da sua condição já podem fazer acordos mais claros como trocar mensagens para atualizar o papo uma vez na semana, ter uma frequência certa de encontros pra fazer alguma atividade que gostam juntos tipo clube de leitura ou noite de jogos, cinema ou outra coisa que vocês gostam.
Se todos (típicos e atípicos) tivessem essas rotinas, atividades, grupos e frequência estabelecidas as amizades não iriam se perder tão fácil.
Quando escuto/leio algo sobre "amizade de baixa manutenção" penso que foi mais uma derrota que tivemos para o capitalismo. Geralmente, os afastamentos ocorrem em razão da sobrecarga da vida, cansaço, indisposição, na necessidade do não-pensar, não-planejar. Aceitar isso e ver menos as pessoas é muito perigoso, ao meu ver, pois nos afasta dos nossos laços, nossas redes, nossa humanidade coletiva, e nos deixa mais à merce do trabalho e sua lógica de produção e alienação. Construir relacionamentos saudáveis para a vida é subversivo!
Depois de imersa no relacionamento monogâmico comecei a me questionar por não fazer programas sozinha. Fui aprendendo a fazer coisas sozinha e depois fui criando esses momentos com amigas. Mas primeiro precisei abrir esse espaço pro meu tempo sozinha.
Li o texto todo, com muitos sentimentos e reflexões (levei alguns tapas, sim), e só no final percebi que você indicava a leitura de um dos meus textos. Por isso, agradeço pela reflexão pontual e contundente, que me fez repensar a minha maneira de me relacionar. Sou casada, então essa manutenção aqui não tem jeito rs, mas sinto falta de amizades que foram esquecidas por conta dessa rotina. Obrigada também pela indicação!
Eu tenho também pensado que essa trend de Amizade de Baixo Custo é um negócio nos mergulhar num universo cada vez mais alienado ao trabalho, sabe? Ou seja, justifico que não rego a amizade porque estou sempre ocupado com trabalho.
Essa leitura ressoou de diversas formas em mim, especialmente no desconforto que sinto com pessoas que levam a/o parceirx pro rolê entre amigas. Pra essas pessoas eu pergunto mentalmente: vocês conseguem existir de maneira independente? E aí, pegando o gancho da independência, eu também tenho amizades que não convivem com as outras, seja por serem de grupos diferentes, seja por serem de perfis muito diferentes. Considerando essa variedade de relações, eu não consigo estar em todas as rodas e não consigo estar disponível emocionalmente (com disponibilidade de escuta, de empatia, com energia para estar junto). Então, apesar do nome “AdBM” não me contemplar pq ele virou um meme, esse fenômeno está na minha vida eu estou ok com ele, pq não consigo oferecer o mesmo grau de energia para todos. Algumas amizades vão ser as que encontro 1x no semestre e isso também diz sobre a distância do raio que elas ocupam na minha vida, e se esse raio diminuir essa frequência de encontros irá mudar. Acho que para pessoas que tem grupos de amigos de escola e faculdade, deve ser uma experiência interessante fazer encontros frequentes com turmas; mas para os que preferem o 1:1 ou trios, acho que a dinâmica é essa e (pelo menos pra mim) tudo bem.
Massa demais esse texto, eu penso bem parecido. Além de ser uma clara subjugação das amizades imposta pelo sistema monogâmico, é também bastante infantil e fantasioso essa ideia de que exista algum relacionamento em nossa vida que não demande absolutamente nada da gente, não é? As vezes a turma da baixa manutenção tá cheia de colega/vínculos frágeis e tá aí chamando de amizade, enfim. Obrigada pela reflexão 😊
Isso me fez refletir sobre uma amizade recente em que quando a pessoa solteira e com dificuldade em seus impasse amorosos estava sempre disponível e conversava muito.
Atualmente, que os conflitos foram resolvidos, a pessoa aparece uma vez ou outra pra não ficar feio.
Tava refletindo esses dias sobre essa relação e esse texto veio a calhar
no fim das contas, acho que a amizade é a manutenção que se faz dela, o resto é memória. e a memória é mesmo fundamental pra que as amizades não se percam quando o tempo é escasso. mas, nessa terminologia quase técnica da coisa, nenhuma manutenção é amizade nenhuma
Tanto a amizade quanto os relacionamentos amorosos precisam de reciprocidade.Sem essa palavra mágica,o esforço é único,de uma mão só.É solidão sem afeto.Se organizar,todo mundo conversa,se abraça e dá boas gargalhadas.Penso simples porque pra mim a vida é sempre agora.
Sou autista e não faço a menor ideia de como começar e manter amizades. Não consigo captar as regras implícitas e aplicá-las na minha vida, da forma como as pessoas típicas parecem fazer. De qualquer forma, como acontece com muitas outras coisas, precisaria de adaptações, mesmo que alguém estivesse disposto a me ensinar as regras de maneira explícita. Por outro lado, sou assexual, sem nenhum interesse em relacionamentos românticos de qualquer tipo, e por vezes é com estranheza que encaro a obsessão de nossa sociedade com relacionamentos românticos, quase como se o ser humano não pudesse viver sem um, quase como se fosse imperativo gostar mais do par romântico que de um amigo. Já ouvi pessoas dizendo que amadureceram muito quando começaram a namorar e sempre sinto certa insegurança com minha vida de solteira, mas será que não podemos amadurecer por meio de nossas amizades?
Sendo autista, talvez o conceito de baixa manutenção afetiva nem faça sentido para mim (precisaria do conceito de amizade atípica, talvez?), mas me parece que dar mais atenção a amigos que a namorados é um ato de rebeldia (e não é muito difícil ser rebelde hoje em dia, não é? Basta dormir 8h por noite, rsrsrs).
Obrigada por me proporcionar essa reflexão!
Que relato importante. As vezes está todo mundo tão imerso na ideia do relacionamento romântico supervalorizado que o seu olhar como atípica nos faz ver coisas que não conseguimos ver vivendo em grupos em que todos pensam igual. Andar com quem pensa igual nos faz agir sem pensar, é isso não é nada bom.
No caso das suas amizades acho que ajuda não deixar nada implícito. E os amigos já sabendo da sua condição já podem fazer acordos mais claros como trocar mensagens para atualizar o papo uma vez na semana, ter uma frequência certa de encontros pra fazer alguma atividade que gostam juntos tipo clube de leitura ou noite de jogos, cinema ou outra coisa que vocês gostam.
Se todos (típicos e atípicos) tivessem essas rotinas, atividades, grupos e frequência estabelecidas as amizades não iriam se perder tão fácil.
Gostei muito das suas ideias! Muito obrigada!
Quando escuto/leio algo sobre "amizade de baixa manutenção" penso que foi mais uma derrota que tivemos para o capitalismo. Geralmente, os afastamentos ocorrem em razão da sobrecarga da vida, cansaço, indisposição, na necessidade do não-pensar, não-planejar. Aceitar isso e ver menos as pessoas é muito perigoso, ao meu ver, pois nos afasta dos nossos laços, nossas redes, nossa humanidade coletiva, e nos deixa mais à merce do trabalho e sua lógica de produção e alienação. Construir relacionamentos saudáveis para a vida é subversivo!
Depois de imersa no relacionamento monogâmico comecei a me questionar por não fazer programas sozinha. Fui aprendendo a fazer coisas sozinha e depois fui criando esses momentos com amigas. Mas primeiro precisei abrir esse espaço pro meu tempo sozinha.
Como é difícil
Li o texto todo, com muitos sentimentos e reflexões (levei alguns tapas, sim), e só no final percebi que você indicava a leitura de um dos meus textos. Por isso, agradeço pela reflexão pontual e contundente, que me fez repensar a minha maneira de me relacionar. Sou casada, então essa manutenção aqui não tem jeito rs, mas sinto falta de amizades que foram esquecidas por conta dessa rotina. Obrigada também pela indicação!
Eu tenho também pensado que essa trend de Amizade de Baixo Custo é um negócio nos mergulhar num universo cada vez mais alienado ao trabalho, sabe? Ou seja, justifico que não rego a amizade porque estou sempre ocupado com trabalho.
Obrigado pelo texto.
Lindo texto e reflexão. Me lembrou esse ótimo texto https://medium.com/@maribastos/o-que-a-n%C3%A3o-monogamia-tem-a-ver-com-as-amizades-84695e92feda
Essa leitura ressoou de diversas formas em mim, especialmente no desconforto que sinto com pessoas que levam a/o parceirx pro rolê entre amigas. Pra essas pessoas eu pergunto mentalmente: vocês conseguem existir de maneira independente? E aí, pegando o gancho da independência, eu também tenho amizades que não convivem com as outras, seja por serem de grupos diferentes, seja por serem de perfis muito diferentes. Considerando essa variedade de relações, eu não consigo estar em todas as rodas e não consigo estar disponível emocionalmente (com disponibilidade de escuta, de empatia, com energia para estar junto). Então, apesar do nome “AdBM” não me contemplar pq ele virou um meme, esse fenômeno está na minha vida eu estou ok com ele, pq não consigo oferecer o mesmo grau de energia para todos. Algumas amizades vão ser as que encontro 1x no semestre e isso também diz sobre a distância do raio que elas ocupam na minha vida, e se esse raio diminuir essa frequência de encontros irá mudar. Acho que para pessoas que tem grupos de amigos de escola e faculdade, deve ser uma experiência interessante fazer encontros frequentes com turmas; mas para os que preferem o 1:1 ou trios, acho que a dinâmica é essa e (pelo menos pra mim) tudo bem.
Massa demais esse texto, eu penso bem parecido. Além de ser uma clara subjugação das amizades imposta pelo sistema monogâmico, é também bastante infantil e fantasioso essa ideia de que exista algum relacionamento em nossa vida que não demande absolutamente nada da gente, não é? As vezes a turma da baixa manutenção tá cheia de colega/vínculos frágeis e tá aí chamando de amizade, enfim. Obrigada pela reflexão 😊
Isso me fez refletir sobre uma amizade recente em que quando a pessoa solteira e com dificuldade em seus impasse amorosos estava sempre disponível e conversava muito.
Atualmente, que os conflitos foram resolvidos, a pessoa aparece uma vez ou outra pra não ficar feio.
Tava refletindo esses dias sobre essa relação e esse texto veio a calhar
tava com saudade dessa newsletter!
Excelente. Importante pra mim ler isso.
no fim das contas, acho que a amizade é a manutenção que se faz dela, o resto é memória. e a memória é mesmo fundamental pra que as amizades não se percam quando o tempo é escasso. mas, nessa terminologia quase técnica da coisa, nenhuma manutenção é amizade nenhuma
Tanto a amizade quanto os relacionamentos amorosos precisam de reciprocidade.Sem essa palavra mágica,o esforço é único,de uma mão só.É solidão sem afeto.Se organizar,todo mundo conversa,se abraça e dá boas gargalhadas.Penso simples porque pra mim a vida é sempre agora.
Obrigada obrigada obrigada 💐
"Um negocio para nos mergulhar"*
Reflexão sensacional!