#57 – Meu ano de cansaço e desabamento
Ou: O ano do pensamento trágico. (Perdoem, Joan e Ottessa.)
Não seria justo dizer que 2024 foi um rolo compressor que passou por cima de mim. Tive meus bons momentos, saí para muitos lugares, comecei meu doutorado, me libertei de um emprego que só me drenava, fiz duas tatuagens, mudei o cabelo, desenhei, criei, escrevi, adotei um gato. Também senti meu corpo retorcido por desconfortáveis lutos dos mais variados tipos. Troquei de medicação mais vezes do que consigo me lembrar. Chorei em consultórios médicos. Segurei diferentes diagnósticos nas mãos e todos eles me pareceram insustentáveis. Pesados demais, escorregadios.
Foi um ano emperrado. Um passo para frente, três para trás. Muitos cansaços. Muitos desabamentos e tentativas de reconstrução. Agora em dezembro, para fechar com chave de ouro, uma ansiedade tão forte que desencadeou: 1) episódios de labirintite. 2) episódios de paralisia do sono. A labirintite eu já tive outras vezes, mas na paralisia foi minha estreia e acho que agora consigo entender perfeitamente o desespero das pessoas que são assombradas por demônios nos filmes de terror.
Bom, tudo isso para dizer que: vou tirar umas semanas de recesso aqui na newsletter. Estou dormindo muito pouco, lidando com as angústias de fim de ano, terminando trabalhos pras disciplinas do doutorado, tentando reorganizar bagunças para começar 2025 com alguma dignidade. E, no meio disso tudo, escrever parece tão custoso quanto correr uma maratona. Nas próximas semanas, vou deixar programado o envio de alguns textos antigos (e a edição mensal dos apoiadores será enviada normalmente). No dia 19 de janeiro, volto com as edições inéditas.
Aproveito para deixar também um agradecimento enorme a todos que estiveram por aqui em 2024, lendo, apoiando, mandando mensagens, em suma, me fazendo companhia no meio dessa confusão labiríntica que é a vida. É muito bom sentir que não estou falando sozinha.
Boas festas para quem é de festas! E para quem costuma sofrer um pouco além da conta neste período do ano: força. Recomendo afundar a cabeça em algum livro que já já passa.
Li, assisti, encontrei
✷ Sobre o nome.
✷ Viciada em Messy da Lola Young.
✷ Às vezes a vida é empurrar gelos pela cidade.
✷ Qual é a linha que separa a amizade de baixa manutenção de um coleguismo que já deixou de ser amizade?
Leia também
Esse “Leia também” vai ser um pouquinho diferente do que costuma ser. Por aqui, geralmente linko dois textos que de alguma forma conversam com a edição atual. Mas, dessa vez, vou linkar alguns dos textos que mais curti escrever este ano. Quem ainda não viu, aproveita para passar lá.
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#50 – Estratégias de conforto existencial
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#53 – O que sobra para as mulheres velhas?
“Os homens velhos comandam o show, eles apertam os botões, fazem as guerras, fazem dinheiro. No mundo dos homens, o mundo dos homens velhos, os homens jovens correm e correm e correm até cair, e algumas mulheres jovens correm com eles. Mas as mulheres velhas vivem nas rachaduras, entre as paredes, como baratas, como ratos, um sussurro…
[Entre dentes] #01 – Os nomes dos mortos
Se você perdeu as últimas edições da Café com caos, explico: agora temos uma nova seção chamada Entre dentes. Aqui vou enviar pequenos contos de horror, no máximo 1 por mês. Alguns desses contos são parte do livro que estou escrevendo, outros são exercícios de escrita. Se você quer continuar assinando a Café com caos, mas não quer assinar essa seção em …
🔒#02 – Escrever é cavar passagens para o espanto
Meio sem querer, me peguei lendo dois livros sobre escrita: Como criar histórias – Um guia prático para escritores (Ursula K. Le Guin) e Escrita em movimento: sete princípios do fazer literário (Noemi Jaffe). Não planejava ler esses livros agora, já estava com a leitura de dois romances em andamento e sabia que ler sobre escrita me demandaria ainda mais atenção. O problema é que fui folhear e nunca mais consegui sair. Os dois livros trazem insights maravilhosos, exercícios ótimos e explicações que parecem tornar palpáveis certas sensações que às vezes a gente nutre, mas não sabe explicar com precisão.
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